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Química mais que perfeita
O mar, a prancha e uma paixão. O surfe modificou a rotina de uma galera, que vê no esporte a realização de um grande sonho e uma oportunidade de vencer desafios e ganhar o mundo. Para quem vive no litoral, essa combinação é ainda mais especial...
- Patrícia Pinheiro • @PattiPinheiro • patipinheiro76@gmail.com - 12/03/2011 às 00:58
Walter Alves/Gazeta do Povo
“Acima do surfe só Deus”. Definição exagerada? Não para Aminandes Pamplona Neto, 14 anos, e outros tantos jovens moradores do litoral paranaense, que descobriram em cima da prancha uma paixão quase indescritível.
O que para muitos é apenas um hobby, para Neto, por exemplo, é a profissão a ser vivida. “O surfe é minha vida, é o que quero como profissão. Sinto muita paz no mar e harmonia entre os colegas quando surfo”, descreve o garoto que trocou o futebol pelas ondas.
Na mesma vibe, a troca de Thiara Mandelli, 26, sem dúvida alguma parece mais audaciosa. Ela abandonou a faculdade, trocou a capital por Matinhos e ainda perdeu alguns quilos. “Antes de surfar eu era mais gordinha, mas com os treinos mudei. O surfe é tudo, é o meu viver e não consigo ficar sem”, relata.
O amor é tão intenso que – durante a gravidez – os meses pareciam não passar. Thiara conta que chorava diante da impossibilidade de “cair” no mar. Diferentemente de Neto, que começou a surfar com 10 anos, Thiara só se aventurou com a prancha aos 19 anos.
Transformador
A relação com o mar é tão profunda que, no caso de João Marcos Silva Moura, 17, ajudou até a melhorar a autoestima. “Eu nunca fui muito bom em nenhum esporte, mas surfar é o que eu mais gosto de fazer e vou me profissionalizar a partir deste ano”, revela o jovem.
A profissionalização não é uma meta totalmente definida para Camila Prado Ribeiro, 14. “Eu não surfo todo dia porque foco mais no estudo e também ajudo minha mãe”, conta a garota, que diz não ter como explicar sua relação com o mar. “A sensação de estar na onda é a sensação de estar no infinito”, filosofa.
Infinitos também são os sonhos dos irmãos de Camila, Henrique, 17, e Matheus, 12. Treinando todo dia e participando de várias competições locais e em outros estados, os meninos imaginam o que seria a realização: superar os campeões mundiais Kelly Slater e Andy Irons.
A superação de desafios já faz parte da história destes jovens. O primeiro obstáculo a ser vencido diariamente é o preconceito. Inclusive dentro de casa.
Com exceção de Neto, todos os outros jovens tiveram, inicialmente, de “remar contra a maré dos pais”. A mãe dos irmãos Prado Ribeiro chegou a colocar Henrique de castigo. “Hoje, ela fica mais nervosa e mais feliz do que a gente quando um de nós ganha um campeonato”, entrega Camila.
João Marcos conta que a mãe não gostava que ele surfasse e que os avós tinham medo, porque os surfistas sofrem muito preconceito. Para Neto, há muita bobagem a ser vencida. “Não tem nada a ver achar que surfista é drogado”, reitera. Na opinião dele, como o esporte está crescendo, muitas pessoas estão superando os pensamentos equivocados a respeito do tema.
Preconceito que Thiara ignorou em nome da sua paixão pelo surfe. “Meus pais não gostaram quando deixei a faculdade, mas hoje são meus fãs e tenho apoio total”, avisa.
Com a prancha no balançar das ondas e o olhar para o infinito, essa moçada segue vivendo intensamente sua paixão. E assim, conquistando respeito, confiança e também alguns troféus...
Depois de conhecer a família, a Gabi Ribeiro conversou com a Thiara Mandelli. Confira o resultado:
- Patrícia Pinheiro - 12/03/2011 às 00:05
Thiara Mandelli quis reescrever sua história
Walter Alves/Gazeta do Povo
Thiara mudou de vida para se dedicar ao surfeMuita gente diz que amor de verão não sobe a serra. Mas será que ele desce? No caso de uma jovem curitibana, daquelas que os pais sonham em ver formada e bem casada, foi exatamente isso que aconteceu.
Aos 19 anos, Thiara Mandelli largou tudo. O sonho de se formar em Direito e ser delegada da Polícia Civil deu lugar à paixão que começou quase por acaso, de mansinho. “Sempre vinha para a praia com o meu namorado. Enquanto ele surfava, eu ficava na areia, tinha vontade de aprender, mas achava que não iria conseguir porque não tinha equilíbrio”, revela.
Mas Thiara é persistente. “Ficava quatro, cinco horas no mar e muitas vezes não entendia que a culpa de não ficar na prancha era da falta de condições do mar”, revela a hoje tricampeã paranaense de long board, campeã catarinense e uma das top 8 do circuito profissional brasileiro.
Os finais de semana foram ficando cada vez mais longos, o desempenho sob a prancha se intensificava e a vontade de retomar a rotina na capital era quase zero. Em 2004, depois de esticar as férias de julho e se dar bem em seu primeiro campeonato, ficando em segundo lugar, concordou com a ideia do hoje marido e seu treinador, Luciano do Rosário, em se estabelecer no litoral.
Para quem pensa que o coração foi decisivo, Thiara surpreende: “Talvez, se não tivesse o surfe, não teria largado tudo”, observa. O amor pelo esporte fez com que a atleta abandonasse a tradicional dieta de 40 dias das gestantes para competir 35 dias depois do nascimento da filha Luara, hoje com 2 anos e 11 meses.
O lado mãe fortaleceu o espírito de família e, hoje, Thiara controla muito bem o seu tempo. “De manhã me dedico aos treinamentos, à tarde trabalho na nossa creperia e à noite fico com a minha família”, completa.
Aos 26 anos, ela não pensa em se aposentar tão cedo. “Essa é uma das vantagens do surfe, você pode competir inclusive na categoria masters. Então, não penso em parar enquanto puder equilibrar a vida pessoal e profissional”, avalia.
E como a família faz parte da sua rotina, já que o marido é o técnico dela e a filha vai para a praia e para as competições, essa história deverá render muitos capítulos ainda...